Contraditoriamente, motoristas de minutos atrás se transformam em passageiros de transportes coletivos e... pedestres? A cada momento, trocam de posição no ranking empatia.
Pela varanda do décimo segundo andar, vejo os vultos da alta velocidade, quatro rodas que mais parecem intermináveis.
Na rotina desta selva de pedras, os riscos são variados. Há os que preferem expressar sentimentos em nome da palavra de Deus sob o manto do ativismo social.
No interior do ônibus lotado e barulhento, há também os que ousam vender guloseimas, anunciando a qualidade do produto e a ação de boa fé no ato da compra.
Remédios contra a dependência química e a violência? Talvez sim, talvez mais um negócio deste “espaço capital”.
Grandeza e pobreza nesta selva de pedras.
Quanto aos que se arriscam em semáforos, esquinas e pontos de ônibus? Vejo uma senhora em busca de moedas para completar o preço da passagem do transporte coletivo; uma escritora frustrada que reduz o preço do livro para menos de 50%, “num país onde não se lê”; travestis de roupas minúsculas e peças íntimas convidativas a horas de prazer, que trarão os trocados de sua subsistência ou do luxo; jovens limpadores de carros, que atravessam na frente dos veículos, arriscando a própria pele; e peles mórbidas, cadáveres jogados na pista soteropolitana.
O diagnóstico: uma série de nãos e caras viradas, que demonstram o endurecimento gradativo da confiança.
Solidariedade e utilitarismo nesta selva de pedras.
“Estamos em Salvador”, lembram os que apenas escutaram os ecos da tragédia, aumentada por carros batidos e vidros quebrados, que atrapalham o trânsito em trechos da cidade.
No Centro Administrativo, copos descartáveis contribuem para o aumento do desperdício. De onde deveriam vir os melhores exemplos, uma lixeira especial capta o que, certamente, será conduzido para reciclagem, quando nem deveriam ser utilizados.
Pelas vias de acesso aos prédios governamentais, faixas de pedestre se restringem à boa vontade dos automóveis ou adrenalina de desconhecidos que atravessam a pista velozmente, após um cálculo grosseiro distância x velocidade.
Placas educativas advertem “Preserve a natureza!”, missão quase impossível quando não se localizam espaços para passagem humana - a não ser sobre a grama.
Num asfalto sem limites, a faixa imaginária esbarra na presença de policiais pingados em pontos de ônibus sob risco de assalto.
Avanços e retrocessos nesta selva de pedras.
O lema é correr, mesmo com a possibilidade de ser engolido pelo “bicho capital”. E como tudo por aqui é risco, o próximo desafio é a volta para casa.
Retorno da Asa Branca nesta selva de pedras.