Nossa aventura começa no Poço Verde, em Ourolândia. O dia amanhece nublado na Terra do Ouro, mas o sol dá sua graça, ainda que de maneira sutil, ao adentrarmos na Terra do Ouro Branco.
Em silêncio quase absoluto, chegamos à margem do poço, local que serve para o abastecimento de água e no qual não se permite banho. Nesse momento, o que seria verde exibe uma esplêndida coloração azulada.
Os únicos sons vêm das abelhas e dos marimbondos que habitam o topo das formações rochosas e árvores nativas, das quais umburanas, aroeiras, barrigudas e umbuzeiros são representativas.
Seguindo pelo Povoado Olhos D'água de Fagundes, a placa improvisada indica o lado direito, rumo ao cemitério.
Ao longo do percurso, a paisagem oscila de bifurcações a vegetação caatingueira, casarios, construções abandonadas, plantações de milho e sisal, torres eólicas, gado, calangos, aves e cachoros, sim, muitos doguinhos andarilhos. Na dúvida, Seu Joselito esclarece que estamos no caminho certo.
Perto dali, o alcoolismo reforça um dos típicos problemas sociais do nosso Sertão...
Em silêncio quase absoluto, chegamos à margem do poço, local que serve para o abastecimento de água e no qual não se permite banho. Nesse momento, o que seria verde exibe uma esplêndida coloração azulada.
Os únicos sons vêm das abelhas e dos marimbondos que habitam o topo das formações rochosas e árvores nativas, das quais umburanas, aroeiras, barrigudas e umbuzeiros são representativas.
Seguindo pelo Povoado Olhos D'água de Fagundes, a placa improvisada indica o lado direito, rumo ao cemitério.
Ao longo do percurso, a paisagem oscila de bifurcações a vegetação caatingueira, casarios, construções abandonadas, plantações de milho e sisal, torres eólicas, gado, calangos, aves e cachoros, sim, muitos doguinhos andarilhos. Na dúvida, Seu Joselito esclarece que estamos no caminho certo.
Perto dali, o alcoolismo reforça um dos típicos problemas sociais do nosso Sertão...
São 12h e a próxima parada é a famosa Gruta dos Brejões, uma das maiores bocas de "caverna" do Brasil, com seus mais de 100m de altura.
Avançando poucos metros ao ar livre em direção à entrada da gruta, caprinos e gameleiras são o cartão-postal que conduz à imensidão.
Equipados com lanternas e muita adrenalina, seguimos 8km pela escuridão.
No caminho, os únicos seres vivos, além de nós, são grilos e aranhas. Ossos de pássaros e morcegos também habitam o local, assim como altares, pichações e pinturas rupestres.
Após muitos passos, contemplação de estalactites, estalagmites, colunas e claraboias, com destaque para o Bolo de Noiva e Dedo de Deus, além de formações que mais parecem os corais do fundo do mar, surgem amplos e apertados salões, e, para nossa surpresa, uma espécie de lago subterrâneo, cenário perfeito para fotografias.
Mais 5km de trilha ao ar livre, entre uma bocaina e outra da gruta, os trilheiros, já cansados, descem sobre pedras um tanto soltas rumo à sede da comunidade, ponto de partida e chegada. Mas nada que o guia local Capivara não possa ajudar, figura emblemática por essas terras.
As araras bailam no ar e cantam intensamente, compartilhando suas penas coloridas com a tela quase monocromática do lado de cá. Rastro de cobras e fezes de mocó permeiam o trajeto, além das diferentes e magníficas cactáceas e, claro, a singularidade da lua minguante.
Após quase 7h de passeio, nosso descanso é na comunidade quilombola local, casa de Anailde, onde tivemos, além de todo o calor humano, um almoço-janta de tirar o chapéu. Mas antes, aquela paradinha no bar de Luís, irmão de Capivara, pra tomar a clássica gelada e refrescar os pensamentos (rs).
*Brejões tem aproximadamente 50 famílias. A escola do lugar dispõe de turmas até o fundamental I. Feira, mercado, posto de saúde e a continuidade dos estudos ficam a cargo de Umburaninhas ou João Dourado, a algumas dezenas de km...
O abastecimento de água vem do poço ou das cisternas. O banheiro, sem chuveiro elétrico, chama atenção pelo formato de oca e nos agracia com uma temperatura agradável para as noites frias do interior nordestino. Coleta de lixo é inexistente. O destino é a queima, porém os recicláveis estão em processo de coleta pela cooperativa de Ourolândia.
A cozinha comunitária promete agregar ainda mais os moradores, que lutam constantemente pela melhoria da qualidade de vida. Ao lado da geleia de umbu, o artesanato é ponto forte, bem como manifestações culturais e religiosas.
As araras bailam no ar e cantam intensamente, compartilhando suas penas coloridas com a tela quase monocromática do lado de cá. Rastro de cobras e fezes de mocó permeiam o trajeto, além das diferentes e magníficas cactáceas e, claro, a singularidade da lua minguante.
Após quase 7h de passeio, nosso descanso é na comunidade quilombola local, casa de Anailde, onde tivemos, além de todo o calor humano, um almoço-janta de tirar o chapéu. Mas antes, aquela paradinha no bar de Luís, irmão de Capivara, pra tomar a clássica gelada e refrescar os pensamentos (rs).
*Brejões tem aproximadamente 50 famílias. A escola do lugar dispõe de turmas até o fundamental I. Feira, mercado, posto de saúde e a continuidade dos estudos ficam a cargo de Umburaninhas ou João Dourado, a algumas dezenas de km...
O abastecimento de água vem do poço ou das cisternas. O banheiro, sem chuveiro elétrico, chama atenção pelo formato de oca e nos agracia com uma temperatura agradável para as noites frias do interior nordestino. Coleta de lixo é inexistente. O destino é a queima, porém os recicláveis estão em processo de coleta pela cooperativa de Ourolândia.
A cozinha comunitária promete agregar ainda mais os moradores, que lutam constantemente pela melhoria da qualidade de vida. Ao lado da geleia de umbu, o artesanato é ponto forte, bem como manifestações culturais e religiosas.
Enquanto presidenta da associação, Anailde denuncia, dentre outras questões, a precariedade da estrada de chão até Umburaninhas, trecho percorrido diariamente pela geração escolar. Ela mesma ainda está concluindo os estudos fundamentais... Mãe de sete filhos e vó de sete netos, narra com orgulho as conquistas de seu povo e os desafios atuais.
A internet comunitária foi instalada pelo estado; calçamento e a reforma da escola são contrapartidas sociais das torres eólicas, marca registrada na região de ventos fortes e um passado-presente de resistência.
Nas festividades da padroeira, Nossa Senhora dos Milagres, em agosto, o número de visitantes aumenta significativamente. Segundo Anailde, único receptivo local, há quem arme barraca de camping na praça, mas a meta é oferecer espaços para aluguel no quintal ou na varanda das casas. Ela, que já desceu a gruta de rapel várias vezes, também é condutora, uma liderança de fôlego, símbolo do poder feminino, a própria resiliência*.
Reflexões à parte, o segundo dia é de visita à gruta da Igrejinha, situada no Angicão, município de João Dourado. O trajeto é na propriedade de Luciana e Marivaldo, margeando o rio Jacaré, subindo e descendo formações rochosas, sendo, a parte final, por dentro d'água. Em média 30min de caminhada e 5km de distância.
Coqueiros, mangueiras, bananeiras, um canavial e jardim de urtigas nos "presenteiam" com sua presença marcante. No último trecho do percurso, eis que o mocó e até o tal jacaré resolvem nos fazer uma aparição.
Pela estrada afora, as "árvores de plástico" são características da paisagem, bem como a caatinga em sua forma clássica, digna de um cenário de filme: ora esbranquiçada ora com seu alaranjado vivo.
Quase 200 km percorridos no 4x4, entre o asfalto e estradas off road, é hora de retornar à Terra do Ouro. Energias renovadas, seguimos em busca da próxima aventura.
*Nível de dificuldade: moderado a avançado
A internet comunitária foi instalada pelo estado; calçamento e a reforma da escola são contrapartidas sociais das torres eólicas, marca registrada na região de ventos fortes e um passado-presente de resistência.
Nas festividades da padroeira, Nossa Senhora dos Milagres, em agosto, o número de visitantes aumenta significativamente. Segundo Anailde, único receptivo local, há quem arme barraca de camping na praça, mas a meta é oferecer espaços para aluguel no quintal ou na varanda das casas. Ela, que já desceu a gruta de rapel várias vezes, também é condutora, uma liderança de fôlego, símbolo do poder feminino, a própria resiliência*.
Reflexões à parte, o segundo dia é de visita à gruta da Igrejinha, situada no Angicão, município de João Dourado. O trajeto é na propriedade de Luciana e Marivaldo, margeando o rio Jacaré, subindo e descendo formações rochosas, sendo, a parte final, por dentro d'água. Em média 30min de caminhada e 5km de distância.
Coqueiros, mangueiras, bananeiras, um canavial e jardim de urtigas nos "presenteiam" com sua presença marcante. No último trecho do percurso, eis que o mocó e até o tal jacaré resolvem nos fazer uma aparição.
Pela estrada afora, as "árvores de plástico" são características da paisagem, bem como a caatinga em sua forma clássica, digna de um cenário de filme: ora esbranquiçada ora com seu alaranjado vivo.
Quase 200 km percorridos no 4x4, entre o asfalto e estradas off road, é hora de retornar à Terra do Ouro. Energias renovadas, seguimos em busca da próxima aventura.
*Nível de dificuldade: moderado a avançado