Quase à meia noite, saímos do ponto de encontro de Petrolina, localizado na Praça da Catedral, e paramos no ponto de apoio ao som de um forró pé-de-serra que anunciava a magia do lugar a ser visitado.
Primeira parada na madrugada: Salgueiro/PE. No balcão da lanchonete, cordéis com as histórias sem tolerância de Seu Lunga atraem a atenção dos turistas ávidos por informação. Autoria de jornalistas e escritores fortalezenses, a literatura popular encanta e arranca risos dos visitantes.
Segunda parada: Jaguaribe/CE. Artes em madeira, detalhes em tecido... Ao som de música clássica instrumental, degustamos um café da manhã self service, um tanto salgado para os bolsos pós-estudantis.
Pela BR 116, vemos muitas motos, caminhões e buracos que são alvo de obras e motivo dos tantos desvios feitos pelo motorista-adrenalina. Com um sotaque próprio do Ceará, nosso condutor parece cantarolar quando fala aos seus. Em defesa da oralidade, os cearenses se orgulham dos dialetos e gírias características da cultura local: esprivitado, ome e muié são exemplos simples do quanto a gramática tradicional precisa ser adequada ao cotidiano da maioria dos brasileiros – ainda mais quando se fala de Nordeste: êta povo criativo!
Na paisagem que domina os reflexos pela janela do ônibus, imperam retratos da seca x verde: ao lado de árvores da caatinga, palmeiras, em especial coqueiros, e lagos enormes parecem bradar em nome da chuva dos últimos tempos, enchendo cisternas e fazendo renascer tantos rios intermitentes que cortam a região. Casas que lembram os templos budistas em sua arquitetura quadrangular e placas “vende-se” ofertam produtos, como queijo e caju, fertilizando pensamentos sob olhares curiosos.
No decorrer do CE, eis que a chuva chega junto conosco. E para chegar a Icaraí, o pedágio anuncia: estamos do outro lado da cidade! Por aqui, os traços indígenas são claros: pele bronzeada, cabelos pretos e fios lisos, mas também presença de estrangeiros com sua pele e olhos claros, demonstrando o aspecto marcante da mestiçagem.
Prédios históricos convivem com esgotos a céu aberto e lixo, observações comuns das grandes cidades. Shoppings, MCs e etc. insistem num capitalismo disseminado pelo mundo. No ritmo acelerado, pizzas e massas em geral são servidos como paliativo para fome de alguns, sem os ingredientes suplementares que dão aquele gostinho especial.
Na Avenida Monsenhor Tabosa, a fama do comércio fortalezense se reafirma por meio de promoções que chamam os visitantes para as compras a preços baixos: sandálias, roupas e bolsas com até 50% de desconto. Diante de todo esse desenvolvimento, a magia das praias consegue acalmar espíritos ansiosos pelo novo. Novo reformulado diante da experiência de mais uma viagem. Desbravando um Nordeste ainda desconhecido...
O tempo agora é quente e, sob um sol forte, passeamos pela capital do Ceará.