Por aqui, os dias frequentemente parecem singulares:
ora sol, ora chuva, ora vento, ora engarrafamentos.
“Ah, que dia lindo, trânsito tranquilo, menos de 1h pra chegar ao trabalho, que fica do outro lado da cidade...”
Se fosse sempre assim, estaríamos praticamente a salvos do estresse causado pela longa e quase inacabável fila de veículos, que se perdem de vista na avenida Paralela.
Até quando?
Até o despertar da consciência coletiva?
Até o despertar da iniciativa pública?
Até à mudança de comportamento na busca por direitos?
Temos o direito de críticas? Sim!
Posso me manifestar? Com certeza!
Mas também preciso e tenho o direito de ir e vir.
Direito constitucional tão violado atualmente, em especial, nesta selva de pedras majoritariamente suja, desorganizada e violenta.
Parte II - As singularidades continuam!
Após praticamente 1h de relógio engarrafados, entendemos a causa do transtorno. Paralisação dos rodoviários, que fecharam uma das vias da avenida. Ao passar do embargo, eis que o trânsito flui rapidamente. Em menos de 10min, estamos na Bonocô, subindo as escadas do Vale de Nazaré.
Pelo vale tradicional, uma senhora de 90 anos conversa com o motorista do coletivo. Eis um milagre! Paciente, simpático e solidário, ele a orienta, dá dicas e espera aquela cidadã de cabelos brancos, vasta experiência e sabedoria de dar inveja aos mais jovens: “Agora vocês irão ver como sou corajosa”, narrava ao descer as escadas do ônibus.
Parada física; parada mental, momento de reflexão. Há pouco tempo pensava cá com meus botões no tal direito de ir e vir e na banalização das manifestações nas avenidas da capital. Agora, penso no meu futuro, tendo como exemplo a experiência que acabei de vivenciar. Que encontremos mais motoristas como esse e cheguemos à melhor idade com vigor e sabedoria similares àquela senhora de 90 anos. Personagem que salvou meu dia. Contradições desta selva de pedras “nos meus dias de paz, nos meus dias de luta”.
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