Em que o relacionamento íntimo entre homem/mulher (porque nada se fala sobre pessoas do mesmo sexo) é uma afronta ao condicionamento imposto pelo sistema, afinal, "há algo melhor que a cópula sem restrições?";
Onde a fuga alucinógena se reflete em doses de “soma”, considerada uma espécie de ração;
Onde a velhice não se revela fisicamente e a morte simplesmente reforça a insignificância humana;
Lugar em que a felicidade é quase imbecil, a liberdade é forjada pelas autorizações dos hierarquicamente superiores e a TV é um objeto onipresente;
Admirável mundo novo no qual até músicas, fragrâncias, artes e esportes podem ser sinteticamente manipulados para garantir o (pseudo) bem-estar dos robôs-humanos (ou seriam gêmeos?).
Mas nesta sociedade distópica também há confrontos... Há os que não se encaixam nos padrões: "selvagens", confrontando o tal e recorrente mito da civilização; preferindo a autoflagelação em lugar do transbordar de sentimentos; a solidão, para, longe dos holofotes, salvar-se das chacotas tidas como experiências em nome do avanço científico; o suicídio...
“Comunidade, identidade, estabilidade” - Eis o lema do universo imaginado por Huxley. Distante ou tão próximo do nosso mundo contemporâneo, ou melhor, do Black Mirror em que nos encontramos?!
Sem passado, história ou religião, apenas o novo, o futuro, a ciência pura, ainda que potencialmente subversiva, mas em doses friamente calculadas para manter as engrenagens em funcionamento. “Oh, Ford! Pra que verdades, pra que belezas quando podemos prescindir de tamanhas ameaças?!”
Uma leitura (in)tensa, complexa e perigosamente (auto)reflexiva. Dos grandes nomes da literatura!